terça-feira, 15 de julho de 2025

A Arquivologia e o Desafio da Digitalização dos Documentos: Transformações e Oportunidades na Era da Informação

Por Abdias Oliveira – Presidente da Associação dos Arquivistas do Espírito Santo

A Arquivologia, enquanto ciência dedicada à gestão, preservação e acesso aos documentos, atravessa um momento decisivo de transformação. A recente determinação do Ministério da Educação (Portaria MEC nº 70/2025), que torna obrigatória a emissão digital de diplomas de graduação a partir de julho de 2025, representa não apenas um avanço tecnológico, mas um marco na maneira como a sociedade produz, organiza e valida informações.

A substituição do diploma impresso pelo digital consolida uma tendência construída ao longo das últimas décadas: a transição do suporte físico para o digital. Essa mudança transcende a mera praticidade, envolvendo aspectos fundamentais como segurança jurídica, rastreabilidade, autenticidade e sustentabilidade — pilares da Arquivologia contemporânea.

A adoção do diploma digital, emitido em formato XML, com assinatura digital certificada (tipo A3 ou superior) e validação por QR Code ou link exclusivo, insere os documentos em um ecossistema controlado, seguro e acessível. Essa nova realidade reforça o protagonismo dos arquivistas na curadoria da informação digital, desde a sua criação até a preservação de longo prazo.

Outro ponto crucial é a garantia de validade jurídica desses documentos, que historicamente dependia do suporte em papel e de selos físicos. A digitalização rompe com esse paradigma, exigindo dos profissionais da informação novas competências — como o domínio de sistemas de certificação digital, metadados e políticas robustas de preservação digital.

Importa destacar que os diplomas impressos emitidos antes da vigência da nova norma permanecem válidos. Isso impõe um desafio adicional: a integração entre acervos físicos e digitais, o que demanda planejamento arquivístico rigoroso para assegurar a interoperabilidade, o acesso contínuo e a preservação dos diferentes suportes.

Diante desse cenário de avanços tecnológicos e exigências normativas, torna-se urgente a criação de um Conselho Federal de Arquivistas. A ausência de um órgão regulador específico compromete o reconhecimento da profissão, dificulta a normatização das práticas e fragiliza a representatividade da categoria frente às políticas públicas. Um conselho próprio garantiria maior autonomia, fiscalização ética e técnica, além de fortalecer o papel estratégico dos arquivistas nas esferas pública e privada.

A evolução documental é inevitável, e a Arquivologia não apenas acompanha essa transição — ela a lidera, alicerçada em seus fundamentos científicos. Ao transformar dados em documentos confiáveis, os arquivistas asseguram que, mesmo em suportes intangíveis, a memória institucional e o direito à informação estejam preservados e acessíveis para as gerações presentes e futuras.